Porto da Pedra
Leia a sinopse do enredo da Porto da Pedra para o carnaval 2020
UNIDOS
DO PORTO DA PEDRA
CARNAVAL
2020
PRESIDENTE:
FABIO MONTIBELO
TÍTULO
DO ENREDO: O QUE É QUE A BAIANA TEM? DO BONFIM À SAPUCAÍ
SINOPSE
DO ENREDO
1º
SETOR: DAS “NEGRAS DE GANHO” QUITUTEIRAS ÀS BAIANAS
Embalados pela poesia, vamos embarcar numa viagem de
amor e sedução, rumo à Bahia, terra de encantos mil, onde o coqueiro dá coco, e
o sol brilha mais forte.
Viajando nas malhas do tempo, à Bahia colonial, onde
no porto de Salvador atracavam os tumbeiros, trazendo negros e negras das
Áfricas, para em terras da América Portuguesa servirem como escravos.
Pelas ruas daquela cidade de outrora, formadas por
becos e vielas, e pelo casario de sobrados, onde moravam sinhô e sinhá com seus
escravos, necessários às atividades braçais.
Os donos de escravos, entretanto, não os utilizavam
apenas no serviço doméstico. Para aumentar seus rendimentos, os empregavam como
“negros de ganho”. Eles trabalhavam nas ruas, e vendiam de porta em porta todo
tipo de mercadoria: aves, verduras, legumes, doces, licores, etc; outros
armavam seus tabuleiros em esquinas movimentadas, nas escadarias das igrejas e
nas praças, oferecendo aos gritos os artigos à venda.
Foi nesse tempo passado que as mulheres – escravas ou
libertas – preparavam o acarajé e, à noite, com cestos ou tabuleiros na cabeça,
saíam a vendê-lo nas ruas da cidade. Ouvia-se o grito apregoado: “acará, acará
ajé, acarajé”.
Herdeiras dos “ganhos”, as baianas de tabuleiro, baianas
de rua, baianas de acarajé ou
simplesmente baianas, segundo o costume
regional, preservam receituários ancestrais africanos. As baianas de acarajé
tornam públicos cardápios sagrados, geralmente desenvolvidos nos terreiros. No
universo do candomblé, o acarajé é comida sagrada e ritual, ofertada aos
orixás, principalmente a Xangô (Alafin, rei de Oyó) e a sua mulher, a rainha
Oiá (Iansã), mas também a Obá e aos Erês, nos cultos daquela religião.
E o que que tem no tabuleiro? Tem abará, vatapá, bolinho-de-estudante,
cocada preta, cocada branca, mingau, passarinha (baço bovino frito),
pé-de-moleque, doce de tamarindo, lelê (bolo de milho), queijada e o acarajé. É
o que a baiana tem!
De saias rodadas, batas de algodão, panos da costa,
turbantes, fios de contas e outros adereços como colares com as cores dos seus
orixás, pulseiras e balangandãs, lá estão as Baianas de Tabuleiro pelos
“cantos” da cidade de Salvador vendendo seus quitutes, sob a proteção de Santa
Bárbara.
E, lá estão as nossas quituteiras nas festas de largo,
festas religiosas que se constituem de
atividades rituais que articulam e relacionam universos simbólicos do
catolicismo oficial e do candomblé. Exemplo maior a da Igreja
do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Novenas, celebração de missa, procissão pelas
ruas da capital baiana, barraquinhas, brincadeiras, música, danças, comidas e
bebidas, e pela lavagem das escadarias. A tradicional lavagem das escadarias
reúne cerca de duzentas baianas para esfregar os degraus com vassouras de palha
e derramar sobre eles um líquido perfumado.
2º SETOR: A DIÁSPORA BAIANA E A
“PEQUENA ÁFRICA” DO RIO DE JANEIRO
Da Bahia, espaço
vivo dessa mistura de tradições culturais, da confluência da cultura branca com
a negra, saiu, já na segunda metade do século XIX, uma leva de baianos que
foram tentar a vida no Rio de Janeiro. A Abolição incrementaria ainda mais o
fluxo migratório, fundando-se praticamente uma pequena diáspora baiana na
capital do país. Assim, sob a proteção da bandeira branca de Oxalá, chegavam ao
porto carioca, nos porões dos navios, negros baianos livres, que vinham buscar
um lugar para morar, uma forma de trabalho, e cultuar os orixás.
Surge, então, na zona portuária, mais precisamente nos
bairros da Gamboa e Saúde, a “Pequena África”, nome criado por Heitor dos
Prazeres para designar o trecho da cidade compreendido entre a área do cais do
porto e a Cidade Nova, em torno da Praça Onze.
Ficou muito conhecida no Rio de Janeiro a casa da
“tia” Ciata, um verdadeiro centro cultural. Lá aconteciam rodas de samba,
música, capoeira, rezas, rituais, almoços e muitas festas. As festas dos orixás
e os batuques do samba ecoavam livremente.
Ciata compunha o grupo das tias baianas que eram os
esteios da comunidade negra, rainhas negras da “Pequena África”. Ela tinha
sólidos conhecimentos religiosos e culinários. Doceira, começara a trabalhar em
casa e a vender nas ruas, sempre paramentada com suas roupas de baiana. Ela,
junto com outras tias baianas da sua geração, faz parte da tradição “carioca”
das baianas quituteiras, que após colocar os doces no altar de acordo com o
orixá homenageado no dia, seguiam para os seus pontos de venda.
Foi na casa da “tia” Ciata que nasceu “Pelo Telefone”,
composição de Donga, considerada o nosso primeiro samba, gravado em 1917.
Mas a cultura negra não ficou só restrita à casa da “tia”
Ciata. Eram comuns as festas das igrejas, notadamente a Festa da Penha. Quando começou, essa festa era liderada pelos
portugueses, e essencialmente religiosa. Mas, com o passar do tempo, os negros
baianos foram chegando. Começaram a surgir barracas de comida das baianas onde
se vendia vatapá, acarajé, caruru. Nessas barracas, as rodas de samba e
capoeira eram outro atrativo. O concurso das músicas carnavalescas acontecia li
mesmo, de viva voz, na Festa da Penha.
3º SETOR: AS TAIEIRAS E AS PROCISSÕES RELIGIOSAS NA CIDADE
DO RIO DE JANEIRO
Para além dessa forte tradição negra na cidade do Rio
de Janeiro, as procissões católicas sempre enriqueceram o imaginário popular.
A carnavalização das procissões religiosas no Rio de
Janeiro é um fato. Nas procissões de Corpus Christi, de São Benedito e na do
Santíssimo Sacramento, puxavam o cortejo, mulheres negras com trajes alvíssimos
e colares de prata, as chamadas taieiras.
Elas tinham uma dança específica que consistia num leve movimento com braços
arcados e pés marcando o ritmo, saíam à frente do andor de São Benedito, Nossa
Senhora do Rosário e do pálio onde o bispo conduzia o Santíssimo
Sacramento.
Nas festas no terreiro, as taieiras cantavam. Já na
igreja, a seguir a missa, antes de formar a procissão, a dança era geral no
adro da igreja e, ali, junto ao movimento dos braços e a batida dos pés, se
juntava um balançar de ancas que o padre fingia não ver.
O posicionamento das taieiras na organização do
cortejo, em qualquer procissão, visto com os olhos de hoje, era como se fosse a
ala de baianas de uma escola de samba. Não só pela elegância e o ar majestoso
das integrantes, como pela presença hierática, própria da ascendência nobre.
4º SETOR: AS ALAS DE BAIANAS DAS
ESCOLAS DE SAMBA E A LAVAGEM DA MARQUÊS DE SAPUCAÍ
Quando as escolas de samba foram fundadas, no fim da
década de vinte do século XX, as baianas também foram incorporadas às novas
organizações. Elas formavam os coros de vozes e influíam na escolha dos
melhores sambas cantados nas quadras de ensaios.
No princípio, os homens saíam fantasiados de baianas
nas escolas de samba. As baianas vinham formadas nas laterais e tinham a
incumbência de defender a agremiação das violências que sofriam. Quando
deixaram de sair nas laterais das escolas, formaram uma ala e continuaram
participando rotineiramente dos desfiles. A ala das baianas hoje é
exclusivamente feminina.
A roupa clássica da ala
das baianas de uma escola de samba compõe-se de torso,
bata, pano da costa e saia rodada. Contudo, a capacidade criativa dos
carnavalescos é ilimitada. Na Marquês de Sapucai, já vimos baianas com as
mais inusitadas fantasias como borboletas, estátuas da liberdade, chinesas,
entre outras.
Na semana que antecede
o desfile das Escolas de Samba, acontece a tradicional lavagem da Marquês de
Sapucaí, abrindo os caminhos para os desfiles oficiais. As baianas de todas as
agremiações são convidadas a participar do ritual. Muita água de cheiro, arruda, aroeira, flores e
defumador para espantar o mau agouro e fazer com que tudo corra bem. O cortejo passa com a participação de baianas,
casais de mestre-sala e porta-bandeira, velha guarda, destaques e
representantes das escolas de samba mirins.
E, seguindo o caminho
do ato da lavagem, numa festa que mistura todas as religiões, raças e costumes,
o Tigre, símbolo maior da Unidos do
Porto da Pedra, se auto-proclama o arauto dessa homenagem. E, num ato de amor,
convoca a todas as baianas das diversas agremiações cariocas para juntos darem
as mãos, empenhar suas bandeiras, e celebrarem as “mães” do samba. È um ato de
luta contra qualquer manifestação de intolerância.
Alex
Varela (historiador)
Bibliografia:
ARAÙJO, Hiram. Carnaval.
Seis Milênios de História. Rio de
Janeiro: GRYPHUS, 2003.
COSTA, Haroldo. Política
e Religiões no Carnaval. São Paulo: Irmãos Vitale, 2007.
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Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em: HTTP:
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FERREIRA, Felipe. O
livro de ouro do carnaval brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
MOURA, Roberto. Tia
Ciata e a Pequena África do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria
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Editoração, 1995.
VELLOSO, Monica. Que
Cara Tem o Brasil? As Maneiras de Pensar e Sentir o Nosso País. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2000.
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